domingo, 6 de novembro de 2011

PRIMEIRO DIAS

Sugestão para escutar enquanto leem:

http://www.youtube.com/watch?v=oF9wOKi4ZSM

Ohmar Pamuk, o premio Nobel turco conta que, quando menino em certa ocasião tiveram ele e seu irmão uma crise de tosse. Quando foram ao medico, este recomendou que fossem sempre dar uma volta pelo Bósforo  e sua orla, para que respirassem ar puro. Foi assim que, segundo ele, a a palavra Bósforo, que no antigo Turco significava garganta se uniu em sua mente a idéia de sair e tomar um ar. Sentado no bar do meu albergue e mirando as belas cúpulas douradas e minaretes de Hagia Sophia me lembro desse trecho do livro " Cidades e recuerdos" que li antes de viajar. Já era meio de tarde e ela se iluminava de maneira única no horizonte, suas formas surreais escorriam diante de meus olhos impressionados...sim, a quem nao faria bem ver o Bósforo, e para além dele essa cidade imensa de três nomes gloriosos? Istambul, Constatinopla, Bizâncio, Capital Europeia da cultura em 2010, e se perguntar a qualquer turco, capital mundial da cultura, esses que sao nacionalistas até a alma.

Flaubert disse há mais de um século e meio atrás que esta seria a capital do mundo 100 anos adiante de seu tempo. Calculou mal o pai de Madame Bovary, mas ninguém poderia dizer que se equivocou; Napoleão mesmo disse que se houvesse um único estado governando o mundo, o centro seria Istambul...delirios de grandeza de Imperadores sempre fizeram parte da alma dessa cidade que separa a Ásia da Europa.

Por tudo isso que é um lugar tao cheio de vidas, histórias e mistérios, ideal para caminhar e perder-se, mas também para se sentar, tomar um pouco do chá negro que em todos os lugares lhe serao oferecidos (aceite sempre) ou o chá de maçã, que segundo um vendedor de tapetes me disse, é dado aos turistas por ser mais barato, não sendo realmente algo tipico do pais (me lembrei da Bahia nessa hora e seu hábito de fazer folclore em cima de coisas que costumam ser típicas, como aquelas baianas de acarajé em cerimônias e recepção de eventos, aquela cafonice toda) mas ainda assim muito bom de experimentar, ou parar para refletir sobre a vida em um dos diversos cafés no centro da cidade, olhar os homens vestidos com túnicas bebendo café e jogando xadrez, fumando tabaco doce nos narguilés coloridos, as mulheres mais conservadores passando cobertas pelos véus...vale a pena olhar e aprender com tudo isso.



Ponte de ida e volta de culturas distintas, sua memória guarda quase tudo; capital da Trácia no período Grego, segunda cidade do Império Romano, coração do Império Otomano e megalópole fascinante do sec. XX...após ter viajado tanto e por tantas cidades da Europa, arrisco a dizer que todas elas ao final se parecem; são rios, castelos, museus e igrejas, praças com monumentos equestres e palácios oficiais...mas Istambul não. Tudo aqui é de uma heterogeneidade  incrível. Dos intricados mosáicos na Igreja de São Salvador e Chora a majestade Otomana do Palácio Topkapi, do mistério que evoca as cúpulas da Mesquita de Sultanahmet e dos casarios de marquises trabalhadas com desenhos intricados, ou  o caos labirintico do Gran Bazar, com suas mais de 4000 lojas vendendo de tudo, ao calçadão do bairro ocidental de Beyoglu.

[plano+estambul.jpg]

Caminhamos pelas ruas e um vento frio sopra nesse outono; assim como tantos estrangeiros a idéia que tinha era de deserto, calor e exotismo na Turquia, estereótipo ocidental sobre o Islã, estereótipo este que muitas vezes se confirma e surpreende (como de minha viagem ao Marrocos) mas que não se aplica a essa sociedade Laica onde as mulheres tem direito a voto e igualdade, a religião nao ofende o estado apesar das tensões existentes, e nao se proibe o alcool, sendo inclusive muito conhecida a cerveja Efes.



Descemos as colinas de Sultanahmet em direçao ao EMINONU, ponto nelvrálgico da cidade antiga; ali, nas margens do Chifre de Ouro convergem a Ponte de Gálata, a Mesquita Nova, o Bazar das Especiarias e a estação do lendário Expresso Oriente, além do movimentado sistema de Ferry Boat que ligam as partes europeias e asiáticas para além do Bósforo, na entrada do Mar Negro; é a Time Square de Istambul ou a Picadilly Circus Londrina, nossa Cidade Baixa com aquele encontro diverso de conexões urbanas e pessoas de diferentes partes da cidade; é a região mais tradicional de Istambul, mais auténtica; sentei em uma das diversas tendas e comi um Balik Ekmeli feito nas barcas luminosas as margens d`água, uma especie de sanduiche de peixe pescado na hora e feito na braza com verduras, enquanto tomava um suco feito de romãs, que aqui é mais famosa do que qualquer outro suco ou refrigerante.
Do outro lado olhava a ponte sobre a qual pessoas pescavam tranquilas em meio ao ruido e movimento da metrópole, alheios ao tempo.












O que vi e vivi:


HAGIA SOPHIA / AYA SOFYA

O céu é dourado e azul, estrelado em paraisos medievais; o rei é o Deus, Imperator Pantocrator do oriente, extático mosaico de peças a fitar sobre abóbodas elípticas e cúpulas de sonhos que jamais cessam ou cansam o olhar...os serafins sem face, a mãe eterna a sofrer com o redentor nos braços, sempre, os olhos de um fulgor bizantino a sorverem com censura e piedade as almas cristãs daquele século 5, e ainda hoje 21. A mesma mão que derrubou reinos e glorificou santos ergue a mais bela igreja da cristandade, a mais bela mesquita dos submissos, e naquela curva do mundo tudo é uma só e mesma coisa ao mesmo tempo a mesma coisa; tudo e Alá ou Jeová ou A tua presença, tudo se funde e se agrega e de repente agora vejo minaretes em direçao aos céus acompanhando aquelas cúpulas erguidas sobre retas por Antemio de Tralles e Isidoro de Mileto, e onde eram rostos agora são flores e ideogramas do deserto; é uma fé aquela outra fé que ao final é a mesma, e somos todos pequenos e grandes sob o ouro celestial de Hagia Sofia.






PALÁCIO TOPKAPI

Nas noites incansáveis dos Haréns de mil mulheres, de sangue e conspiraçoes, entre edificios monumentais rodeados por pátios erguidos pelo conquistador Mehmet II, misturam-se histórias, corredores e saloes secretos...escravos negros eram trazidos de terras distantes para serem Eunucos nos haréns, eslavas de pele e olhos claros eram escravizadas e levadas para servirem ao Sultao.
Mas ali também repousa algumas das maiores relíquias do Isla como o manto do profeta Maomé, fios de sua barba, espadas e diamantes, sangue e fé moldaram esse povo de cavaleiros das estepes sob cuja fúria guerreira colocaram toda a Arábia e oriente Médio.






A CIDADE E OS GATOS

Por onde passo gatos, gatos gordos e negros em antigos capitéis, nas ruinas bizantinas, nas estátuas de olhar languido dos tempos Helênicos...os gatos aqui proliferam e exaltam a mistica de Istambul, assim como os caes em Athenas...guardam a cidade em suas noites silenciosas, guardam as memórias e os feitos esquecidos do homens. Aqui sao eles os senhores da cidade.



Adendo: Me desculpem a falta de acentos em algumas palavras, mas aqui o teclado é outro e me falta paciencia para a essa hora descobrir como se corrige tudo isso...assim que puder refaço a ortografia.

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