quinta-feira, 28 de abril de 2011

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Falando de Mitos


















Desde a aurora da civilização os homens sonham; sonham com terras planas cercadas por oceanos sem fim onde dormem serpentes antigas; Sonham plantas e espíritos que lhes contam do mundo antes do tempo presente, quando deuses caminhavam sobre a terra e heróis primevos cruzavam desertos de areias negras a procura da imortalidade.
Os grandes épicos e lendas da humanidade surgiram de feitos esplendorosos, de paixões capazes de movimentar exercitos, atravessar oceanos e derrubar muralhas.
Herácles, Heitor, Aquiles, Sigurd, Gilgamesh...o arquetípo do herói guerreiro civilizador matador de dragões, fundador de cidades e povos surgia no alvorecer da consciência, como um impulso canalizador do nosso anseio em dobrar a natureza, cruzar seus rios e desbravar florestas.
Sou de uma cidade na qual a despeito de viver na secularidade e nem mesmo compartilhar de determinadas crenças, não consigo esquecer que ainda cultua em diversos locais os mesmos ritos arquetípicos dos Gregos nos tempos homéricos, ou dos chamados pagãos da Gália...padrões antigos e maravilhosos que se amontoam em narrativas fantásticas de deuses e espíritos da natureza, rituais e sacrifícios capazes de fascinar e despertar na nossa alma de europeus desterrados antigas sensações.
Jung explica, diriam alguns, pois em Freud a mente apavora o que ainda não é mesmo velho. Coisas da vida.
Os mitos persistem apesar da mitomania de dizerem ser histórias de crianças, ou invenções pseudo reais...a cultura atual bebe deles como um viciado, a exemplo de tudo o que vemos no cinema, de John Wayne a Tarantino, Titanics ou Shreks.
(a TV de certo modo é muito rudimentar para fazer valer a dimensão mítica. Ela arrisca até o ponto do conto de fadas, que julga mais palatável, e parace se frustrar).
Mas quando vamos para a literatura Brasileira, na qual não me arrisco a criticar ou fazer elegias (não elogios)nos deparamos com um deserto de homens e idéias nos ramos da ficção fantástica , nas histórias e aventuras míticas e subcriações.
Há uma grande literatura infanto-juvenil, há uma enorme literatura "adulta" (me perdoem por essa definição deficiente) mas falta entre essas duas vertentes o simples e maravilhoso mundo da imaginação fantástica.
Segundo Christhoper Vogler em seu livro A Jornada do Escritor, os Americanos do norte discernem o autor (auctor) do escritor (writer); o primeiro almeja a originalidade da língua, a ousadia estilística, a revolução dos ismos. O segundo é aquele que gosta de contar histórias...faltam então esses por aqui, ou melhor
falta a oportunidade para todos aqueles que não almejam nem pretendem ser os novos Machados de Assis, os Guimarães e Clarisses.
Apenas querem entreter e contar histórias que emocionam e fascinam sem a ambição da eternidade (ou um pijama lustroso de imortal. A esse já bastam os Sarneys.)

E se falo de histórias míticas, de criaçòes e divindades, é impossível me esquivar daquela que Tolkien definiu como "a maior de todas as histórias";
Tudo ali é perfeito em sua cadencia narrativa, atraindo e emocionando até a catarse final. As vezes penso que a grande narrativa canônica (porque existem maravilhosas histórias que os apedeutas relegaram a um esquecimento) dos quatro evangelistas parece ter sido tecida por um só autor; o nascimento maravilhoso, a infancia, a jornada ao redor daquele mundo trazendo uma nova idéia...a morte dolorosa e por fim,
o retorno e a confirmação de uma vida nova sobre o velho mundo, capaz de influir por tantos e tantos séculos, como apenas as grandes histórias são capazes.
Tolkien eleva os evangelhos e defende sua idéia de subcriação do mundo como um gozo dado pela divindade ao homem. Suas palavras:

"é tão grande a generosidade com que foi tratado (o homem por Deus) que talvez agora possa, razoalvemente ousar imaginar que na fantasia ele poderá auxiliar o desfolhamento e múltiplo enriquecimento da criação. todas as histórias poderão tornar-se verdade..."

Não posso deixar de dizer que por muito tempo sentia erroneamente como Brasileiro a falta de um fundo mitológico cultural pré-existente, até que entendi como Baiano ter tudo isso junto aqui mesmo, ou a possibilidade de ouvir as primeiras histórias contadas a beira do fogo pelos guerreiros negros de Benguela e Igbó, os olhos faiscantes ao falar de deuses e heróis que mais tarde encontraremos paralelo graças ao inconsciente coletivo na herança do panteões clássicos de nosso ramo Romano-Lusitano, e se mesclam a cultura Nórdica-Americana das velhas sagas transformadas em seres dos quadrinhos, dos filmes, da cultura pop...os mitos vivem, e em meio dessa sociedade cujos filhos cresceram sendo cobrados a terem pragmatismo, reduzindo-se em um racionalismo estéril e repetitivo típico dos Latinos (não sou eu quem digo isso, é Marie Louise von Franz, que sabe das coisas) penetram pelas frestas e cutucam as nossas almas secas de concretude, afim de que acordemos outra vez e começemos a sonhar para além das torres da cidade.