domingo, 30 de outubro de 2011

Viagem ao Oriente

Sobrevoando o Mediterrâneo, 20.10.11

Saio de Barajas, terminal 4 em Madri, cansado e carregando as marcas dos últimos dias, rumo a Istanbul, a jóia do oriente. O avião chacoalha frágil enquanto cruzamos a Europa de oeste a leste; da minha janela vejo o mediterrâneo e seu azul luminoso, 2.900 km forjadas em ouro e guerra, e mais ainda as separam a língua, a fé e a história.

A bela Bizâncio de minaretes esguios almejando os céus sempre ocupou meu imaginário, o grande portal da Ásia, encruzilhada de mares, curva de civilizações. Também nasci na confluência civilizatória de vários povos; também nasci em um porto nos confins de uma terra estranha, rota de navios, mercadorias e escravos.
Istanbul, Constantinopla, Bizâncio, capital de impérios e lendas me espera com seus sons, seus perfumes e sua fé.

Istanbul será minha esses dias.

Tento dormir e não consigo. Horas se passam e aos meus pés vejo a Grécia e seus montes escarpados, suas ilhas vulcânicas e solo árido. Outra viagem em breve, penso enquanto o Mar Egeu vai se desfazendo e aos poucos vejo o grande estreito sobre o qual se assenta a maior cidade da turquia;

Do aeroporto Mustafá Kemal Attaturk tenho a primeira impressão real do país;
A língua completamente estranha ao ocidente, apesar do alfabeto latino, me desconcerta; pergunto em inglês a uma atendente como chegar no meu hostel no centro da cidade, e ela responde com um sotaque indecifrável, apontando o dedo para a estação em que devo descer. Abre um enorme mapa e então vejo o quão grande é essa metropole de quase 20 milhões
de almas. Risco com a caneta que ela me empresta o ponto indicado e sem perceber a levo comigo.
Por onde passo fotos e pinturas de Mustafá Kemal me seguem.
Esse nome marcará minha viagem pelos próximos dias, esse que é o grande pai do povo turco, o lider fundador da pátria após o fim do império Otomano, guerreiro político reformador e quase um deus para esse povo; enquanto s demais mulçumanos canalizam seu radicalismo para a fé, os Turcos o exprimem através de seu nacionalismo beligerante.

busco o metrô e sigo a indicação do aeroporto...porém não encontro nenhuma casa de câmbio para trocar meus Euros por Liras, e preciso voltar para o portão de desembarque; porém, para minha surpresa todos os acessos do aeroporto são estritamente controlados por detectores de metal; isso não apenas no aeroporto, mas também nos shoppings centers, museus...entendo que estou em um país não tão pacífico e seguro. Sou revistado outra vez, apesar de dizer qual a minha intenção. enfim, volto, troco meu dinheiro e pego o metrô.

Horas se passam quando chego em Sultanahmet, o centro histórico e cultural de Istanbul. Aqui, onde havia o antigo palácio Real de Bizâncio estão dois dos mais incríveis monumentos da humanidade; a igreja/mesquita/museu de Hagia Sofia, e a Mesquita Azul...seus minaretes majestosos alçam os céus em um sinal de fé, sua beleza dourada resplandece, 1400 anos de história e grandeza se erguem diante de mim. Penso nos primórdios do cristianismo, nas lutas inicias, nas perseguições; penso em Constantino e naquela período de decadência do império do ocidente; a história é contada de frente pra trás, e no entanto imagino que aqueles homens e mulheres jamais perceberam que viviam o estertor civilizatório de uma era, que tudo se acabava ali, e aquela igreja era o simbolo desse novo início.















Caminho em direção ao meu albergue. As ruas com cheiro de tabaco e especiarias exóticas evocam antigos sonhos de sultões e haréns, a fumaça espessa dos vapores nos banhos turcos relaxa e entorpece a mente; mistérios, mistérios se ocultam naquelas vielas estreitas, naqueles olhos negros e rosto marcado das mulheres e homens que passam, o nariz aquilino e proeminente, os cabelos escuros; diferentes dos espanhóis com suas caras grandes e ovaladas, olhos redondos e lânguidos, deselegantes no vestir e no trato, os turcos são um povo de cavalheiros que ainda usam bigodes a moda antiga, se vestem com sobriedade e estão sempre de barba aparada e cabelos arrumados; as mulheres tingem-se de loiro como fazem as Brasileiras depois dos 40 (e cada vez mais cedo) e ao menos as que vi no aeroporto são extremamente bonitas; mais tarde percebo que na parte histórica poucas trabalham nas lojas e comércio, e as vezes há apenas homens atendendo.

Chego no albergue, e encontro com Rodrigo, amigo meu que veio de outras viagens e lugares; havia percorrido a Europa, depois Canadá e Estados Unidos e então voou para a Turquia...parecia cansado, mais até do que eu. Fiquei feliz de encontrar alguem conhecido após os dias em Madrid...passei os últimos 3 dias na capital Espanhola by myself, sozinho, vendo a loucura e o desenrolar daquela cidade.

Istanbul inteira está tomada pelas cores da bandeira nacional turca, em todas as casas, varandas e ruas o vermelho intenso do crescente islâmico com a estrela se destaca; Haverá o feriado da fundação da república no dia 30 de outubro, e como disse, esse povo é extremamente nacionalista. fotos de Mustafá Kemal proliferam por todos os locais, em estações, shoppings, padarias, praças...esse mito nacional, grande lider e reformador levou a turquia do atraso do sec. XV a modernidade da sociedade ocidental do sec. XX em pouco mais de uma década, abolindo antigos costumes e tradições, dando direito as mulheres de votar, de não usarem véu, modernizando a sociedade, alterando o alfabeto, enfim, foi a um só tempo um JK, um Getúlio Vargas e um lider capaz de fazer algo que nenhum dos nossos ainda conseguiu; reformar a alma de um povo, civilizar seus costumes e hábitos...está pra nascer aquele que vai trazer pro sec. XXI a coletividade Brasileira e seus atavismos coloniais, seu ranço clientelista e adesista, sua negação ao debate e as discordâncias de idéias, enfim, expurgar o que temso de pior e reformar as legislações, esse grande desafio maior do que qualquer estrada ou ferrovia, reformar uma sociedade.




















Paramos diante de uma antiga casa da madeira , tao comum em Istanbul, chamada por eles de Yallis. Olho outra vez os simbolos da bandeira. Me lembro do céu da Bahia que em noite de lua crescente é exatamente igual; me lembro de outras luas, estrelas e canções...parece que fazem meses que sai de casa.




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