quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Essa é a tarceira parte de meu relato, que muda e se reverte; agora partimos para a Capadócia, terra de magia e montanhas surreais, deuses esquecidos e igrejas escavadas nas rochas douradas, entre fendas e vales.



Saimos á noite eu e Rodrigo, após alguns dias em Istambul, através de uma agência de viagem chamada WalkAbout, onde fechamos o pacote com hospedagem, almoço, transporte e o mais importante, o passeio de balão, de maneira que não precisamos nos preocupar em chegar lá arriscando perder o que mais queriamos; eram quase 10 horas de viagem de ônibus até Goremne, principal cidade da região, onde teriamos um hotel dentro das cavernas e montanhas. O ônibus não tinha ar condicionado e pior, nem banheiro; a cada hora faziamos uma parada, e a noite a temperatura na região batia no zero; cansados, nos retorciamos nas poltronas tentanto dormir, o que raramente conseguimos; enfim, já eram oito da manhã quando chegamos na cidade, totalmente destruídos ; pra piorar o apartamento só ficaria pronto depois das 10...mas estava na Capadócia, e nada disso realmente importava; aqui era o coração da Anatólia, onde está a maior parte da Turquia, terra mística onde os primeiros dias do Cristianismo floresceram no oriente, por onde marcharam Impérios como o hitita, Persa, Macedônio, o Romano e por fim os Turcos Sedjucidas e Otomanos, que pouco a pouco ocuparam toda a região, mudando para sempre sua fé e cultura;  onde antes era local sagrado dos Bizantinos cristãos gradualmente  se Islamizou; no entanto, muitas antigas igrejas e monastérios encravados nas rochas resistiram ao tempo, sendo hoje considerados patrimônio da humanidade;




As montanhas de formas curvas, constrastavam com o céu de um azul intenso e luminoso, banhando os vales de cuja grama dourada provinha um aroma seco e forte; terra antiga a Kapatuka, terra dos belos cavalos em Persa, essa vastidão abstrata cujos limites nunca foram claramente estabelecidos; ali tudo era de uma beleza mística, o vento percorria solitário suas chaminés de fadas, curvas e corpos convidativos, montanhas sensuais cuja mão do acaso e da paciência deram formas sutis e majestosas, pedras de lua, brancos véus, mudando e se desfazendo; nas suas áridas vastidões São Paulo caminhou levando a luz e o sermão de outras montanhas, sabedoria imortal de palavras transcendentes; ali percorreu os vales com sua fé e seu verbo, falando de novas eras e futuros de igualdade e justiça. Nasceu, combateu e morreu Giorgios, Jorge, São Jorge, Santo e lenda que sentou praça com suas armas e cavalarias, e todos ainda hoje lhe rogam serem parte de sua companhia, rogam que vençam os dragões da maldade e do mundo, épico antigo recantando pelas eras que move corações e crenças da Etiópia a Londres, dos terreiros da Bahia onde é conhecido como Ogum, das letras de Ben Jor, de tantos outros. É dessa mistica e antiga Capadócia que surgem as lendas, nos mosáicos milenares e gastos de velhas igrejas, nas casas onde eremitas se isolavam buscando o transcendete, nas pinturas rústicas e nos velhos evangelhos, tudo aqui emana energias de fé e transcendência...






Talvez só a Chapada Diamantina, e não sei porque me arrisco a comparar,  rivalize em beleza e mistério com essa terra; a mesma aridez plena de vida, as belezas brutas da pedra exposta, o silêncio sereno de sua natureza, as formas delgadas e sutís traduzindo-se em pássaros, camelos e corpos, brincando com nossa mais profunda imaginação. São como nuvens que mudam e alteram a forma, surpreendem...rude arquitetura moldada pelo tempo, com seus arcos e abóbadas esculpidos, puras mãos e forças de vontade humanas a procura do divino; aqui é impossível distinguir onde começa a marca do homem e termina a da natureza, tão unidos estavam esses dois elementos agora tão díspares.







Balões:

Despertamos antes das 4; o frio açoitava a pele, e por mais roupas que usássemos não havia como se proteger da noite no deserto. A sensação térmica já estava abaixo de zero e eu não sentia mais a ponta dos dedos. Uma luz pálida e amarelada iluminava a rua onde cães brigavam por pedaços de carne e restos de construção se acumulavam. Na minha esquerda, estranhei tantas abóboras jogadas no chão, como lixo. Meu guia me explica que ali eles aproveitam as sementes que são valiosas no mercado, e jogam fora o fruto;   lhe digo que no Brasil nós comemos as abóboras e não jogamos fora, mas as sementes sim.Imagino que talvez desperdicemos outras coisas e não nos damos conta; esqueço isso quando chega a van com o nome da agência e dentro dela um Turco sorridente nos acena para que entrássemos. A noite fria ficava para trás e o aquecedor nos fez dormir até o local onde os diversos comboios se encontram. Comemos e vimos que a maioria das pessoas era da terceira idade. Brinco com meu amigo que iremos bem acompanhados pelas senhoras de mais de 70 anos que tomam chá ao nosso lado, assim como as dezenas de Japoneses presentes em todo ponto turístico que se preze, com suas lentes e câmeras fazendo minha máquina se encolher de vergonha...enfim, outra vez na van e então chegamos. Nosso condutor se apresentou, Carlos Francisco, espanhol que há 6 anos vivia lá. olhei enquanto muitos homens tentava insuflar o gás, e a chama intensa iluminava nossos rostos....no horizonte o azul denso da noite foi cedendo, e ao longe vinha o ar frio chamando a manhã.
Enfim, voaríamos.  





Locais de interesse para o viajante (falarei de algumas delas mais adiante)


-Museu ao ar livre de Goreme
-Peribacalar Vadisi (vale das chaminés de fadas)
-Vale de Zelve
-Vale de Songali
-Vale de Ihlara
-Cidades subterrâneas de Derinkuyu Ozkonak

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